domingo, 23 de julho de 2023
por Laurie Kazan-Allen /IBAS
Original em inglês: http://ibasecretariat.org/lka-blog.php#a210
17 de julho de 2023.
Vocês se lembram da cena do filme Ghostbusters (OS CAÇA-FANTASMAS) de 1984, quando os três protagonistas são confrontados por uma força sobrenatural violenta e tentam pensar em algo benigno, inventando o homem “Marshmallow Puft”? Quase ao mesmo tempo, a encarnação maligna de Gozer se transforma em uma versão gigantesca e maligna desta guloseima infantil pegajosa e parte em sua missão de destruição.
O escândalo que envolveu o icônico talco mineral para bebês da Johnson & Johnson (J & J) - devido a alegações de que o talco mineral poderia conter amianto - continua a se desenrolar dia a dia sob o olhar atento da mídia global. Com tantas tragédias pessoais, dezenas de milhares de processos judiciais, maquinações legais em múltiplas jurisdições e interesses elevados do governo, a imagem que antes era sagrada desse clássico do consumo foi tão danificada que a empresa não teve escolha a não ser retirá-lo dos mercados mundiais. Um produto outrora reverenciado que, assim como o “Stay Puft Marshmallows”, era um item básico de tantas infâncias, e que desapareceu de nossas vidas.
Dias atrás foram publicados dois artigos com notícias dos desenvolvimentos recentes da J & J nos Estados Unidos e na Índia. Em 13 de julho, a Reuters informou que a LTL Management - uma subsidiária da Johnson & Johnson - havia apresentado um processo no início do mês em um tribunal federal de Nova Jersey contra 3 pesquisadores, que publicaram um artigo sobre os seus estudos mostrando que o uso de produtos pessoais contendo talco mineralpoderia causar câncer. A J & J negou essas descobertas. O processo foi dirigido aos Drs. Richard Kradin, Theresa Emory e John Maddox, todos demandados a "retratarem-se e/ou emitirem uma retificação" do estudo que afirmava que o consumo de produtos contendo talco mineral contaminado com amianto pode causar mesotelioma.1
Em 22/6/2023, um artigo do “Times of India” anunciou que a Johnson & Johnson (J & J) havia “renunciado à sua licença para produzir o talco mineral para bebês em sua fábrica de Mumbai”. A decisão de parar de fabricar o talco mineral para bebês na Índia foi, alegou a empresa, ser "parte de uma mudança global para substituir o talco mineral para o produzido com amido de milho". O autor do artigo apontou que a J & J parou de produzir seu talco mineral para bebês nos Estados Unidos e no Canadá há três anos e descreveu a indignação do ex-representante da Administração de Alimentos e Medicamentos do populoso Estado indiano de Maaarastra, cuja capital é Bombaim, Mahesh Zagade, que deplorou o tempo entre a decisão ocorrida na América do Norte e na Índia. "A Johnson & Johnson pôde vendê-lo na Índia", disse Zagade, por três anos adicionais porque não temos uma agência forte reguladora de alimentos e medicamentos/cosméticos. "2
Mesmo desonrado, o talco mineral para bebês continua à venda em muitos países, como relatou uma colega do Brasil, onde o produto continua sendo vendido em farmácias.
Foto tirada na farmácia “Drogaria São Paulo”, em São Paulo), no dia 14 de julho de 2023. A foto é uma cortesia da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea).
Como pode ser visto na imagem acima, a Drogaria São Paulo vende o talco para bebês da J & J à base de amido de milho (rótulo amarelo), bem como o produto para bebês à base do talco mineral tradicional (rótulos roxos e rosa), sendo que a alternativa mais segura (de amido de milho) custa quase 38% a mais.
Está além da nossa compreensão que os governos nacionais permaneçam passivos diante dessa situação preocupante. Até onde sabemos, nenhuma ação jamais foi tomada no Reino Unido sobre a venda do talco mineral para bebês da J & J, que pode, até agora, ser comprado online3 e em lojas físicas em todo o país.4
Foto do site Boots de 14 de julho de 2023 onde diz que o talco mineral para bebês é livre de parabenos, corantes e ftalatos. Somente na parte de trás do recipiente a palavra talco mineral é mencionada .
As garantias dadas em relação ao produto vendido on-line por Boots, Chemist4U e Amazon, respectivamente, incluem frases como: “Feito com talco mineral purificado, totalmente certificadopor cientistas e médicos especialistas”;5 “clinicamente comprovado como seguro, delicado e suave”;6 e “livre de parabenos, corantes e ftalatos. Feito de talco mineral purificado, totalmente certificado por cientistas e médicos especialistas.”7
Na manhã de domingo (16/7/2023), a autora passou pelas lojas locais para ver se eles ainda estocavam o talco mineral para bebês da Johnson & Johnson. Imaginem sua surpresa quando o encontrou à venda em uma das 400 lojas de propriedade da Savers UK e da Sainsbury's, a segunda maior cadeia de supermercados do Reino Unido.
Imagens feitas na Savers, noroeste de Londres, em 16 de julho de 2023. Na parte de trás do recipiente constam os ingredientes: Talco, Perfume. Tanto este produto quanto o comprado na Sainsbury's foram fabricados na Tailândia.
Causa espécie que nem na Savers, nem na Sainsbury, havia à venda talcos para bebês de amido de milho da J & J quando a autora os visitou, embora isso possa ser comprado on-line e sem dúvida emoutros pontos de venda no Reino Unido.
Num dia em que Matt Hancock, o ex -secretário da Saúde, criticou os Ministros, na primeira página do Sunday Times, por não agiremsobre o “escândalo nacional” causado pelo amianto nas escolas, pode ser oportuno chamar a atenção dos políticos para este outro perigo evitável.8 Não faz sentido que o produto para bebês à base de talco mineral da J & J, abandonado por seu fabricante e censurado por várias autoridades nacionais, até agora esteja sendo vendido no Reino Unido (N.T:. e em outras partes do mundo, incluindo o Brasil, onde o substituto à base de amido de milho se encontra amplamente disponível, embora a um preço maior do que o praticado pelo condenado produto à base de talco mineral).
Tradução e inclusões no texto sob responsabilidade de Fernanda Giannasi/ABREA com autorização da autora
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Referências:
1 Knauth, D. Johnson e Johnson processa pesquisadores que associaram o talco mineral ao câncer. 13 de julho de 2023. https://www.reuters.com/legal/litigation/johnson-johnson-sues-researchers-who-linked-talc-cancer-2023-07-13/
2 Debroy, S. J & J Stops Fabricação de talco para bebês no país [Índia]. 14 de julho de 2023. https://timesofindia.indiatimes.com/city/mumbai/jj-stops-manufacture-of-baby-powder-in-country/articleshow/101741363.cms
3 Site da Boots: O talco para bebês da Johnson e Johnson. 14 de julho de 2023. https://www.boots.com/johnsons-baby-powder-500g-10260587
Site da Superdrug: O talco para bebês da Johnson e Johnson. 14 de julho de 2023. https://www.superdrug.com/baby/baby-toiletries/baby-powder/johnsons-baby-powder-500g/p/777384
Site da Sainsbury: O talco para bebês da Johnson e Johnson. 14 de julho de 2023. https://www.sainsburys.co.uk/gol-ui/product/johnsons-baby-powder-200g
4 Infelizmente, uma moção (Early Day Motion - EDM) nº. 1718, de 12/4/2021, intitulada: talco mineral em pó, contaminante amianto e câncer, apresentada por membros do parlamento britânico (MP´s atHouse of Commons) preocupados com o tema, não resultou em sanções por parte do governo. O EDM foi assinado por apenas 20 deputados, nenhum dos quais era do Partido Conservador. https://edm.parliament.uk/early-day-motion/58341/talcum-powder-asbestos-contaminants-and-cancer
5 Site da Boots. 15 de julho de 2023. https://www.boots.com/johnsons-baby-powder-500g-10260587
6 Site da Chemist4U. 14 de julho de 2023. https://www.chemist-4-u.com/johnson-s-baby-powder-500g
7 Site da Amazon. 15 de julho de 2023. https://www.amazon.co.uk/Johnson-and-Baby-Powder/dp/B00W1RPEYM/ref=asc_df_B00W1RPEYM/?
8 Yorke, H & Spencer, B. A falha em não remover o amianto é um “escândalo nacional”. 16 de julho de 2023. https://www.thetimes.co.uk/article/matt-hancock-failure-to-remove-asbestos-from-hospitals-and-schools-is-national-scandal-dtzhxtbjc
Hancock, M. Combatendo o amianto salvará vidas - e milhões para o NHS (National Health Service). 16 de julho de 2023. https://www.thetimes.co.uk/article/acting-on-asbestos-will-save-lives-and-millions-for-the-nhs-bx6zqvclc