Segundo o advogado da ABREA Mauro Menezes*: "Jornal da Globo usa termo não usual no Brasil para designar o cancerígeno amianto, privando público da noção do perigo". Em http://www.viomundo.com.br/denuncias/mauro-menezes-jornal-da-globo-usa-termo-nao-usual-para-designar-o-cancerigeno-amianto-privando-publico-da-nocao-do-perigo.html
Mauro Menezes*: Jornal da Globo usa termo não usual para designar o cancerígeno amianto, privando público da noção do perigo
* Sócio-Diretor-Geral do Escritório Roberto Caldas, Mauro Menezes & Advogados.
por Conceição Lemes
Uma das matérias do Jornal da Globo dessa quinta-feira (29/09/2016) foi sobre o acidente de trem em Nova Jersey, nos EUA, que matou a brasileira Fabíola Bittar de Kroon e deixou dezenas de feridos. Ela estava parada na plataforma, quando foi atingida pelos destroços.
A reportagem durou 2 minutos. A partir de 1min45s, o correspondente Jorge Pontual (o vídeo está aqui; negrito é nosso), de Nova York, afirma :
A investigação das causas vai ser demorada, porque a estação destruída foi construída em 1907 e os destroços estão contaminados por asbesto que pode provocar doenças graves nos pulmões. Primeiro, será necessário descontaminar toda área.
Aqui, do estúdio, o apresentador Willian Waack não fez comentário.
“Consternado com o trágico acidente, infelizmente, assisti, em meio à narrativa jornalística de uma rede brasileira de televisão, transmitindo em português, usar a palavra ‘asbesto’ para designar o cancerígeno amianto”, critica Mauro Menezes, advogado da Associação Brasileira das Vítimas de Amianto (Abrea).
Asbesto e amianto são sinônimos, sim. Porém, no Brasil, usa-se amianto.
A própria indústria se refere ao seu produto, por vezes dissimulado com o qualificativo “crisotila”. É uma variedade, que não afasta o caráter carcinogênico do mineral, como assegurou a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2010.
“Teria sido mais adequado utilizar o termo consagrado em nosso país – amianto”, frisa. “Só assim os telespectadores teriam noção da proximidade que mantêm com esse perigo.”
Preciosismo? Não!
Primeiro: o amianto não é apenas questão de saúde ocupacional; é problema de saúde pública.
Segundo: a fibra assassina, como é chamada, causa asbestose (doença provoca endurecimento do pulmão, a pessoa morre por asfixia), câncer do pulmão e mesotelioma, tumor maligno que pode aparecer até 50 anos após o primeiro contato com o amianto.
O mesotelioma atinge pleura (membrana que reveste o pulmão), pericárdio (membrana que recobre o coração) e peritônio (membrana que reveste a cavidade abdominal). É extremamente agressivo, incurável e fatal.
Ou seja:
* Ao não dizer expressamente que os destroços da estação de Nova Jersey estão contaminados por amianto, que causa câncer, o Jornal da Globo de certa forma minimizou aos olhos do público brasileiro o risco.
* Ao mesmo tempo, privou o telespectador de perceber a diferença brutal entre Brasil e os EUA no que diz respeito à herança maldita de construções e resíduos contendo amianto.
“Lá, a prévia e delicada descontaminação dos destroços contendo amianto é algo protocolar, rigorosamente obedecido”, explica Menezes.
“Já aqui, nos encontramos na vergonhosa condição de país produtor e exportador de amianto, além de consumidor desenfreado e irresponsável, mercê das manipulações constantes da sombria e lucrativa indústria do setor”, denuncia.
“Enquanto nos EUA há consciência plena do risco assassino do amianto, aqui convivemos com a sua livre e perversa utilização”, arremata o advogado da Abrea.
Considerando que boa parte dos telespectadores não sabe que asbesto é amianto, por que, pelo menos, daqui William Waack não fez o reparo?
Por que falar para o umbigo? Seria para não relembrar que o amianto causa câncer?